Nascida no município de Giruá – RS, em 1977, cresci e comecei minha formação e vida profissional em Santo Ângelo.
Fui a criança que não queria ser professora quando crescesse, muito menos fazer uma faculdade de Matemática.
O tempo passou, o Ensino Fundamental acabou e, para o Ensino Médio, surgiu a oportunidade de fazer parte da primeira turma de magistério do Instituto Estadual Odão Felipe Pippi, escola pública na qual estudava.
Aí não deu mais para fugir e a Matemática começou a ser notada com outros olhos. Tudo culpa da professora Jacira, de didática de Matemática, culpa boa, é claro, pois foi com ela que entendi, verdadeiramente, o significado do “vai um” nos cálculos de adição, o “pedir emprestado” na subtração, o “juntar os números porque não dá para dividir” na divisão, o “deixar uma casa em branco” na multiplicação por dois algarismos, e muito mais.
Não fui, não sou, nem mesmo tenho a pretensão de ser um gênio da Matemática, mas desde então sinto-me realizada quando consigo mostrar para os meus alunos o porquê das regras e sua origem.
Assim começa minha formação: com o Curso Normal, no Ensino Médio.
Nesse período, a cada aula vivenciada, livro lido, pesquisa concluída, trabalho realizado, prova feita, recreio orientado, substituição de professor e contato com crianças como voluntária no Grupo Escoteiro do Ar Ventos do Sul, a certeza da escolha certa.
O passo seguinte foi cursar Matemática Plena, na URI – campus de Santo Ângelo, numa relação de amor com as didáticas e uma relação não muito amistosa com algumas disciplinas de pura aplicação de fórmulas.
Paralelo à graduação, atuei como monitora e depois professora das séries iniciais da Escola Criança e Companhia, e como professora particular de Matemática das séries finais do Ensino Fundamental.
Avançando no processo de formação, fiz a primeira especialização, em Supervisão Escolar, na modalidade à distância, pela PUCRS. Foi aí que o desejo em descobrir como ensinar a tabuada para os meus alunos do segundo ano levou-me a criar uma metodologia de ensino para a construção do conhecimento, que mostrasse aos alunos de onde vêm os resultados, e a comparar com uma metodologia de transmissão das tabuadas prontas.
Ah, você deve estar se questionando sobre a relação do ensino da tabuada com supervisão escolar, não é? Meu entusiasmo com o tema era tamanho que, em sua generosidade, minha orientadora aconselhou-me a investigar o papel do supervisor escolar nessa situação em que os professores planejam de forma isolada, com metodologias e recursos diferentes, sendo que uns conseguem garantir uma aprendizagem significativa e prazerosa, enquanto outros conduzem à memorização de regras e técnicas que afastam as crianças da Matemática.
Antes mesmo de concluir essa especialização, já havia sido selecionada para o curso de mestrado em Educação em Ciências e Matemática, também na PUCRS, na modalidade presencial.
Que período maravilhoso!!!
Para esta etapa, eu dormia no ônibus duas noites de cada semana, por um ano inteiro: a noite de quarta-feira para me deslocar de Santo Ângelo a Porto Alegre e a noite de sexta, para voltar para casa, pois sábado de manhã tinha curso de Inglês.
Isso só foi possível graças à ajuda e incentivo da direção das escolas pública e privada que ajustavam a grade de horários para que eu pudesse trabalhar segunda, terça e quarta-feira nos turnos da manhã, tarde e noite e estudar o dia todo na quinta e na sexta. E é claro, graças a todo apoio e incentivo da minha família.
Trabalhos? Leituras? Estudo? Planejamento?
Sim, tinha tudo isso encaixado de meia noite às 6 da manhã, nos sábados e domingos, no ônibus e nos intervalos das aulas do mestrado.
Ah, não fui a única a fazer isso!! Tive parcerias maravilhosas que viajavam comigo, outras que seguiram o mesmo caminho nos anos seguintes, e muitos colegas da turma de mestrado que, assim como eu, moravam no interior, estavam em busca da concretização de seus propósitos.
Com o título de especialista em Supervisão Escolar em mãos e o resultado da pesquisa apontando que havia descoberto uma metodologia com excelentes resultados para o ensino da tabuada, ficara a interrogação: por que trabalhar/planejar/estudar sozinho se em grupo podemos obter melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem para beneficiar nossos alunos?
Eis que essa inquietação e as boas memórias dos grupos de estudo, no tempo da faculdade, e do planejamento em conjunto, no exercício da docência na escola particular, com pessoas que tenho em grande estima, me conduziram ao tema de pesquisa da dissertação de mestrado: Grupo de Estudos: uma alternativa para qualificar a prática construtivista interacionista nas séries iniciais do Ensino Fundamental – PUCRS, 2006), sob o olhar sábio de meu orientador.
Nesse ínterim, tive a oportunidade de trabalhar na formação de professores na Síntese, hoje Faculdade Uníntese e, com mestrado concluído, fui contratada para lecionar Didática da Matemática no curso de Pedagogia da Faculdade CNEC de Santo Ângelo – RS.
No início, assim como em qualquer novo desafio, o frio na barriga, o tropeço, o acerto e o erro, mas a convicção de que é preciso começar de algum lugar, que o erro faz parte do processo e que o planejamento, o estudo e o trabalho em equipe são pressupostos importantes da vida do professor/educador.
Feliz e realizada por poder fazer reflexões teórico-práticas no meu trabalho, pois atuava com alunos do Ensino Fundamental e na formação de professores no ensino superior e em cursos de capacitação, ingressei na segunda especialização, agora presencial, em Docência no Ensino Superior, na mesma faculdade na qual lecionava. Após concluir todas as disciplinas do curso, eis que jamais imaginei fazer minha monografia de conclusão dessa especialização numa ilha no outro lado do mundo.
Sim, fui selecionada pela Capes na segunda edição do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa em Timor Leste (2007-2008) para o desafio de trabalhar com professores selecionados nos diferentes estados do Brasil na elaboração de livros didáticos de Matemática para o Ensino Pré-secundário e nos Cursos de Bacharelato de Emergência de Matemática, em Timor Leste.
Paralelo a esse trabalho, e no intuito de contextualizar e dar sentido aos aspectos teóricos propostos pela ementa da disciplina de Metodologia Específica de Matemática II, realizei minha pesquisa de monografia com 33 professores e 3 diretores de escola investigando sobre o jogo do repartir, pesquisa essa que deu origem ao capítulo O jogo do repartir nas aulas de Matemática: reflexões teórico-práticas no ensino superior de Timor-leste, do livro Experiências de professores brasileiros em Timor-Leste – Cooperação Internacional e Educação Timorense, organizado por Maurício Aurélio dos Santos e publicado pela Editora UDESC, 2011.
De volta ao Brasil, depois de dois anos de muita aprendizagem na cooperação e de ter encontrado no outro lado do mundo o meu príncipe encantado, a vida continua no Rio de Janeiro. Fui aprovada no processo seletivo de professor temporário para o Colégio Pedro II, onde tive a oportunidade de trabalhar e aprender muito por um ano, até o nascimento do nosso primeiro filho.
Com a transferência do trabalho do meu marido para Brasília optei por dedicar-me à maternidade, sem distanciar-me da educação. Então fiz minha segunda graduação, agora em Pedagogia, na Unicesumar – PR, na modalidade à distância, e realizei estágio numa escola montessoriana, muito plena com a chegada do nosso segundo filho. Quanta aprendizagem!!! Já era apaixonada pelo material dourado de Maria Montessori e naquele momento tivera o privilégio de vivenciar a educação montessoriana na prática.
Após a conclusão do curso de Pedagogia, nesse período de dedicação à maternidade, fui desenvolvendo o projeto Tabuada da compreensão à memorização, o qual trago na forma de ebook no intuito de ajudar a todos os interessados em compreender a tabuada para fazer dela uma aliada na escola e na vida.